Os fãs dos Beatles foram surpreendidos quando Sir Paul McCartney anunciou que pretende lançar uma nova canção da banda de rock inglesa, neste ano, com a ajuda da Inteligência Artificial (IA), ao extrair e tratar os vocais de John Lennon de uma antiga demo.
“É meio assustador, mas empolgante, porque é o futuro”, comentou o músico, que declarou pouco usar a Internet, enquanto o debate sobre o uso da tecnologia fervilha entre a empolgação e o medo das possibilidades que ela pode trazer nas artes, comunicações e no marketing. Afinal, a IA será o futuro de tudo.
▪ ELIS REGINA NO CONAR: OS LIMITES ÉTICOS DA IA
Não é só nas artes que a discussão está acalorada. A cena da cantora Maria Rita em dueto com a mãe, Elis Regina, enquanto dirigiam em uma estrada deserta emocionou muita gente.
A campanha de celebração dos 70 anos da Volkswagen e lançamento da nova kombi elétrica no Brasil se tornou rapidamente um dos assuntos mais comentados das redes, com diversas análises e previsões de como as IAs agregariam nas campanhas publicitárias.
Passada a euforia do lançamento, porém, o incômodo entre alguns espectadores ganhou força e chegou ao Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar), que abriu uma representação ética em “respeito à personalidade e existência da artista, e veracidade”, na suposta confusão entre a ficção e realidade do vídeo.
O que está em discussão não é a possibilidade criativa que a tecnologia permite, mas um novo debate sobre os limites da manipulação de imagem para fins comerciais e, principalmente, novas questões legais sobre direitos autorais.
O uso de IAs entrou até na disputa pelas heranças: a popstar Madonna já teria alterado o testamento para não permitir a criação de hologramas em shows póstumos utilizando IA, de acordo com o jornal The Sun, deixando para os herdeiros apenas o controle da produção comercializada em vida.
Apesar das campanhas que utilizam cenas geradas, o uso da IA em ferramentas mais sutis já está integrado em nosso dia-a-dia. “Para tornar a experiência de todos em nossos aplicativos única e personalizada, usamos sistemas de inteligência artificial (IA) para decidir qual conteúdo aparece, baseado nas escolhas feitas por vocês”, escreveu Nick Clegg, Presidente de Assuntos Globais da Meta.
O Google, por sua vez, oferece a tecnologia que otimiza qualquer vídeo para uma melhor experiência de visualização vertical, além de disponibilizar o novo Bard, ferramenta semelhante ao ChatGPT, como um auxílio para pesquisas, otimização de conteúdos e interações mais humanizadas pelo chat.
Sutilmente, cada vez mais ferramentas das grandes empresas já apresentam IA na automatização de processos, inúmeros softwares e aplicativos de edição de imagens oferecem ferramentas com IA para facilitar a rotina de ilustradores e designers. É bem provável que você tenha utilizado algum serviço com IA até encontrar esse conteúdo. Como indicado pelo criador do ChatGPT, Sam Altman, interromper os avanços da IA não é mais possível e, portanto, precisamos avançar nas regulamentações e limitações dos usos.
▪ FUTURO DA IA: NEM TÃO OTIMISTA, NEM TÃO CATASTRÓFICO
É fácil se lembrar dos diversos livros, filmes e séries que alertam sobre os riscos da tecnologia para a humanidade (alô Back Mirror). Quando se discute a regularização da IA o objetivo não é barrar esses avanços, mas evitar que a tecnologia seja deturpada e que as leis acompanhem essas novas discussões. Para se ter ideia da urgência em avançar esse debate, ainda não é possível reivindicar a criação de uma imagem, texto ou som criado com IA no U.S. Copyright Office.
Referências no tema, os professores Dennis Hirsch e Piers Turner também ressaltam que utilizar as tecnologias ainda sem regularização é um risco ético, especialmente para grandes empresas. “Os gestores de ética em IA expressaram preocupações sobre privacidade, manipulação, viés, desigualdade e substituição de empregos”, indicam.
Na pesquisa realizada pela NeilPatel com mil profissionais de marketing, a maior preocupação com o uso da IA é justamente a questão legal/ética (14,8%), além da dependência excessiva da tecnologia (14,5%) e a preocupação com conteúdos muito similares (12,1%).
Como já aconteceu com outras tecnologias, na popularização da Internet ou expansão das redes sociais, na prática, o próprio mercado e a sociedade cobrarão essas mudanças. É bem possível que no processo a IA seja mais associada com ferramentas que otimizam e agilizam processos rotineiros dos profissionais de marketing do que necessariamente com a deturpação de fatos ou criação de avatares robóticos que dominarão o mundo.
Entre fãs e haters, a realidade é que a IA já entrou na nossa rotina e caberá a cada um ponderar como (e com qual finalidade) utilizá-la.
Para saber mais, acesse as referências 🔽